terça-feira, 15 de março de 2011

Gerações à rasca


"Dizem-nos que a geração que agora tem à volta de 30 anos está à rasca. Porque, por exemplo, há jovens de 30 anos, com licenciaturas e eventualmente mestrados, que não conseguem melhor do que um contrato precário a recibo verde e um salário entre 500 e 1000 euros. Outros não conseguem sequer um primeiro e precário emprego. É uma tragédia? Será.

Mas então que dizer de um menos jovem, de 40, que trabalhe oito horas por dia numa fábrica têxtil qualquer, a troco de 475 euros? Ou um de 45, desempregado, sem direito a subsídio, com dois filhos, que é preciso alimentar, vestir e educar? O que será isto? Quem está mais à rasca, a geração dos que agora têm 30 anos, ou a geração dos que agora têm 40 anos?

E que dizer dos idosos que, aos 70 ou 80 anos, sem retaguarda familiar, sobrevivem em casas velhas e destelhadas com 300 euros de pensão? Estes também estarão à rasca, ou não contam, porque quem conta, agora, são apenas os que têm um curso superior, banda larga em casa e conta no Facebook?

Que me perdoem os que estão verdadeiramente à rasca [muitos deles da geração que ronda agora os 30 anos], mas esta manifestação que se anuncia e sobretudo a discussão que vai gerando, demasiadas vezes se parece com uma birra de quem substituiu o aborrecimento e as dificuldades da vida real pela excitação e rebelião de uma vida virtual.

Escreve-se no manifesto que deu origem a este protesto, e repete-se até à exaustão, que a geração dos 30 anos é, entre todas as gerações, a que tem mais habilitações. Escasso e pobre argumento para um país que há muito anda cheio de doutores e engenheiros, pelos menos nos títulos que mandavam inscrever nos livros de cheques e cartões-de-visita. Habilitações nunca faltaram, o que falta é qualificação e competência. E ao contrário da primeira, a duas últimas não aparecem automaticamente com o canudo de fim de curso.

Aos que apareçam na luta do próximo dia 12, fica um último alerta: não é a geração dos que agora andam na casa dos 30 anos que está à rasca; são as várias gerações de portugueses, todas elas, que estão à rasca. E não há soluções para sair do buraco que contemplem apenas os jovens de 30 anos. Ou se encontra um caminho comum, ou vamos todos juntos para o abismo. Tenham em conta que não é um abismo virtual. É o da pobreza. Onde já mergulharam dois milhões de portugueses. A esmagadora maioria não tem curso superior, muito menos mestrado. E estes, sim, estão verdadeiramente à rasca."

domingo, 13 de março de 2011

DESEMPREGO EM PORTUGAL






Antes de 25 de Abril de 1974, o emprego em Portugal tinha duas formas bem definidas, o emprego no Estado, e o emprego em empresas particulares.


No primeiro caso, o emprego era estável mas mal remunerado e a produtividade muito baixa, assim como a qualidade do serviço que, de uma forma geral era prestado aos utentes do serviço público.


No segundo caso, as remunerações eram bem superiores mas a garantia de estabilidade no emprego não existia, mas nem por isso as pessoas eram despedidas por dá cá aquela palha, (os competentes trabalhadores, eram até disputados pelas grandes empresas). Os menos ambiciosos acomodavam-se na segurança do emprego do estado, enquanto os mais ambiciosos e competentes, optavam por empregos privados, preferencialmente nas grandes empresas multinacionais.


A segurança de emprego por decreto só gera precariedade, porque ao obrigar o empregador á responsabilidade de um vinculo contratual, cria mais um factor de insegurança no investimento a quem queira iniciar por sua conta uma qualquer atividade económica, afastando, assim os menos afoitos, da atividade empreendedora. O que leva à menor criação de postos de trabalho.

Na tentativa de superar esta situação nasceram os famigerados contratos a prazo e os recibos verdes. Esta solução veio agravar a situação do emprego, ao permitir ao empregador uma forma de se defender de reveses, usando o artifício legal (certamente não na ideia do legislador), de ser prática comum os contratos a prazo com interrupções temporárias para evitar um compromisso irreversível.